A produtora paulistana Rafaela Andrade de 22 anos de idade, mais conhecida como BadSista, quer voar alto e ocupar um lugar na música onde todas as mulheres deveriam ocupar.
Ela começou a se envolver com música quando era criança e aprendeu a tocar violão de forma autodidata. Quando cresceu, decidiu estudar música e conseguiu uma bolsa de Produção Fonográfica e assim começou a se aventurar em produções eletrônicas e entender mais sobre toda a parte técnica.
Em 2015, lançou pelo selo nacional Beatwise Recordings Na Madruga, seu single de maior sucesso, que bombou tanto nas pistas quanto nas redes e chamou a atenção de produtores como Sango e Branko, que acabaram fazendo um remix da faixa. Seu EP de estreia, intitulado Bad$ista, saiu no começo do ano pelo selo Funk na Caixa.
BadSista atualmente está no comando da Bandida, festa de global bass que tem o objetivo de fomentar essa cena e criar mais mulheres atuantes como DJs e produtoras, além de priorizar mulheres na produção, nas artes visuais e no line-up.
Batemos um papo com ela para saber alguns segredos de estúdio, suas técnicas de produção e quais foram os desafios e dificuldades na hora de começar a produzir sozinha.
WME – O nome BadSista veio da onde?
BadSista – Na época em que resolvi “seguir” uma sonoridade, pensei em várias possibilidades. Durante esse processo, tive uma briga feia com meu irmão e me veio essa ideia de uma irmã má, BadSista no caso, na qual consigo sintetizar as nuances do meu trabalho.
WME – Como aprendeu a produzir? Explique um pouco o seu processo de aprendizagem e trajetória.
BadSista – Sei tocar violão desde os 9 anos de idade, aprendi de forma autodidata. Durante alguns anos, fiquei gravando a mim mesma, tocando e cantando. Fazia segunda voz, dobras no violão, riff, solos e tudo que me vinha na cabeça. Depois de terminar o ensino médio, consegui uma bolsa pra estudar Produção Fonográfica. Foi então que aprendi a mexer em sequenciadores e entender toda a parte técnica de produzir uma música.
WME – Quais foram as maiores dificuldades para você no começo?
BadSista – Muitas vezes, tinha algumas ideias e não conseguia passar pro computador, pois meu nível de conhecimento técnico ainda estava evoluindo. Mas nada que algumas fuçadas não resolvam. E também a dificuldade de ter um bom computador para poder rodar vários plugins sem travar. Um bom tempo, fui eu e meu notebook numa relação complicada, pois eu precisava estudar e ele me travava inúmeras vezes rs.
WME – O preço dos softwares, plugins e equipamentos para produzir música é bem elevado. Você acha que isso é um impedimento para muitas pessoas começarem a produzir por conta própria?
BadSista – Só depois de muito tempo consegui ter um bom computador com um processador que me permitisse trabalhar exigindo mais. Pra quem não tem muita grana de começo, como foi o meu caso, o processo de aprendizagem e evolução acontece numa velocidade diferente, pois você precisa daquele aparelho eletrônico pra poder continuar. E, por exemplo, fui ter acesso a alguns equipamentos somente porque estava na faculdade. Isso foi muito bom. Porém, quando eu acabei o curso, o acesso também acabou. E quem não pode? O que faz? Já consegui fazer muitas coisas somente com um notebook e um fone de R$ 120. Porém, claro que se eu tivesse uma estrutura maior, conseguiria explorar minha musicalidade muito mais, teria muito mais possibilidades. Por enquanto, vou fazendo o meu melhor com o que tenho.
WME – Quais programas você usa pra produzir?
BadSista – Uso o Ableton Live 9. Foi com o qual mais me identifiquei. Consigo me movimentar facilmente.
WME – Você tem algum equipamento em casa?
BadSista – Possuo uma placa de som Behringer, um teclado controlador, um fone AKG K511, uma guitarra e um violão.
WME – Qual o seu maior sonho de consumo em equipamentos ou ferramentas e por quê?
BadSista – Gostaria muito de conseguir comprar um MacBook e parar de passar alguns estresses que rolam com o Windows hahaha. E, com certeza, um violão MIDI. Violão é um instrumento que domino, então seria ótimo, conseguiria fazer altas melodias interessantes.
Meu sonho é ter um estúdio que me dê a autonomia de trabalhar o que quiser, com quem quiser: uma máquina boa, monitores, microfone, e alguns tantos instrumentos. Pra quando houver a pergunta: “Vamos gravar uma música?”, eu só responder: “vamos!” com tranquilidade.
WME – É você mesma que mixa e masteriza seus sons?
BadSista – Ainda estou estudando muito essa parte de mix e master. Não confio 100% no que faço, até porque acabo sempre pirando mais na produção do que nessas etapas posteriores. Porém, é sempre certo: durante a produção, acabo fazendo uma pré-mix, deixando tudo já onde ficaria bom.
WME – Conta um pouco sobre seus planos para 2017. Lançamentos, parcerias, projetos…
BadSista – Muitas músicas novas. Pra ouvir em casa, pra dançar na pista, pra ouvir a caminho de dançar na pista. Com parcerias interessantes que não posso ainda revelar Além de movimentar a festa Bandida, que visa elevar as mulheres DJs e produtoras, principalmente da cena bass.
WME – Na cena existem várias meninas que tocam, cantam, mas poucas que produzem. Me conta algumas produtoras que você admira. Tem alguma em especial que você gostaria de fazer parceria?
BadSista – A Uniiqu3 eu admiro demais. Adoraria fazer uma parceria com ela, acho que seria muito interessante! Eu amo a vibe Jersey Club dela. Se colaborássemos ia dar muito certo! A cantora ABRA também gosto demais, principalmente por ser um som com umas referências musicais tão intrínsecas. Também tem uma garota de Caldas Novas, chamada Eliz K que manda muito nas músicas cheias de harmonias bonitas e uma energia future. Sem esquecer de citar a genial WondaGurl, que eu aplaudo muito com um sorriso na cara.
Ouça The North, da produtora canadense Wondagurl
WME – Você organizou a Bandida, uma festa de global bass com line-up composto só de mulheres. Conta um pouco mais sobre esse projeto.
BadSista – A Bandida nasceu da necessidade de ocuparmos os lugares que devemos ocupar. É isso que estou fazendo como BadSista, e isso que quero ver outras garotas fazendo também. Então, me juntei com algumas meninas já atuantes nesse nicho, pra colocar em prática a festa Bandida, onde a estrutura é toda feita por mulheres e o público alvo é qualquer um que quiser colar na festa. Na festa apresentamos o global bass, que é uma vertente que engloba um milhão de possibilidades. Nosso objetivo é fomentar essa cena para criar mais atuantes femininas como DJs e produtoras também. Com a ideia de posteriormente começarmos a ministrar oficinas de produção musical e discotecagem preferencialmente para mulheres. Também visamos chamar alguns DJs homens que se encaixam na proposta de som da festa. Mas, o lance é que o protagonismo vai ser sempre das mulheres, englobando line-up, organização, produção, artes visuais, fotografias e vídeos.
Acompanhe o trabalho da BadSista no Soundcloud