Érica Alves fala sobre Baphyphyna Radio Show, mulheres na produção e traz um mix especial para o WME

Érica Alves fala sobre Baphyphyna Radio Show, mulheres na produção e traz um mix especial para o WME

Érica Alves - Foto Ariana Miliorini

A diva Érica Alves está cheia de planos para 2018, e nos últimos meses vem trabalhando no projeto Baphyphyna Radio Show, reunindo faixas inéditas ou pouco conhecidas de produtores nacionais para um mix mensal de duas horas na Reform Radio.

A cantora e produtora musical falou com a gente sobre a forte presença das mulheres no cenário de produção nacional, contou um pouco de seus projetos para 2018 e ainda nos presenteou com uma mix especial pra você ir ouvindo e conhecendo essas mulheres incríveis da música brasileira.

Como começou a oportunidade de fazer o Baphyphyna Radio Show para a Reform Radio?

Recebi um email deles em julho passado convidando mesmo. Eles disseram que acompanhavam meu trabalho que seria muito interessante se eu enviasse uma mix mensal de duas horas com minhas pesquisas. Resolvi que a melhor coisa a se fazer era abrir esse espaço para produtores nacionais. De quebra consegui uma excelente fonte para meus DJs sets na noite. Todo mundo se beneficia!

O que você acha da participação das mulheres? Recebe muitas faixas autorais de minas brasileiras?

Recebo bastante material de mulheres, nunca deixam a desejar!

O que você percebe das tendências da música brasileira entre as faixas que recebe? Como está o cenário para música eletrônica no Brasil?

Eu recebo muita coisa de techno, deep tech, minimal, tech house, house. Também tenho bastante coisa de cantautores, procuro não me restringir com generos musicais, manter a coisa aberta mesmo!  Está tudo muito lindo, nossa produção desde a caseira à profissionalizada é de uma fineza tremenda. Me sinto muito sortuda mesmo de ter acesso a tanta coisa incrível!!

Quais as faixas favoritas que já recebeu de minas aqui do Brasil?

É difícil falar em faixas favoritas, mas gostei muito de “Moon Picnic” da Sifonics, “Hey hey hey” da Pujolll, “Narcosis” da Mari Herzer feat. Zopelar, “Move Yourself” da Sheefit, “Não tem pra ninguém” da Perrelli, o remix de “Hypnotized” da Letrux pela Noizzed, mas são as que surgiram agora ao responder e que estão lançadas já por aí, só dar um Google!  Estou pirando também com um som que Marina Faé me mandou, uma banda que ela tinha mais de dez aos atrás: Cine mad in Chaos.

Quais os planos para 2018? Coletâneas, shows, mais um disco…?

2018 é o ano que lanço a primeira coletânea da Baphyphyna, Baphyanas Brasileiras vol. 1, vou lançar o clipe de “Manifesto”, dirigido por Liv Massei, do meu álbum Beautiful (erica.bandcamp.com), três faixas em coletâneas, sendo uma no México. Tenho alguns remixes também que estão por serem lançados! Além disso tudo, estou preparando um EP com João Pinaud, que deve sair em abril. Estou com um live com músicas novas, prontinho pra ação também, e um DJ set tinindo, que acabei de apresentar pelo live streaming da Zene Agency. Estou indo para Europa em junho fazer alguma datas de verão, aliás, estou na fase de marcar as gigs (fica a dica, galera, rs). Estou super animada.

Além disso tudo, estou com duas festas no Rio, a Manga Rosa com Pinaud, Pedro Piu e Gustavo Tata, em que faremos uma temporada no Éden, começando com Valesuchi no dia 9 de março, e a NUA, em parceria com a mega DJ Ananda Nobre, em que somente contratamos mulheres para o line up. Nossa primeira edição foi um bapho só, trouxemos a Cashu e Amanda Mussi de SP, Belisa de BH e Carol Hollanda. Já temos uma próxima para dia 10 de março com Badsista, Carol Mattos e Dani Avellar de convidadas, além de mim e Ananda <3

A mix que preparei contempla sonoridades que sinto que tem a ver com o WME, faixas de cantoras, coisas com sonoridades mais brasileiras, menos focada na pista de dança, mas para audição em casa. Segue a tracklist:

BEX – Human
Sifonics – Açúcar
Indiia – Sun Iansã
Yule – Toque de Loluk
Carla Valenti & Gingerella – Matheus 25
Tata Ogan – Afrobrasilis Xangô
Sabine Holler – Hot Sauce
Cine mad in Chaos – Disco bombing
Cultrix – Controlled Ordeal
Mariana Degani – De Boca
Carolina Ribeiro – Tarraxa da Elevação (feat. FUSO!)
Mari Herzer feat. Zopelar – Narcosis
Urubu feat. J. Abramovay – Sokak
Samira Loures – Girls PWR
Letrux – Hypnotized (Noizzed Remix)
Tunna – Flerte Moderno
Claudia Assef – Cuide de Você
Natalia – Revolução das Bruxas

Coletânea Hystereofônica Vol. 1 reúne produções de mulheres brasileiras dos mais diversos gêneros

Coletânea Hystereofônica Vol. 1 reúne produções de mulheres brasileiras dos mais diversos gêneros

Vasculhar as inúmeras listas de melhores álbuns, produtores e DJs de 2016 é navegar por um labirinto do patriarcado – veículos importantes como o Resident Advisor e outras referências da música eletrônica internacional compilaram listas e listas de grandes DJs do ano citando pouquíssimas mulheres. Mesmo com a o enorme volume de produções inéditas lançadas nos últimos anos é muito comum ver a presença feminina ignorada nos balanços criativos do período.

Viviane Mendes, do projeto Guillermo, e Renata Carnovale estão na coletânea
Viviane Mendes, do projeto Guillermo, e Renata Carnovale estão na coletânea

Mas as mulheres estão por aí – nas pistas onde que você dança todo fim de semana, assinando as produções que embalam seu cotidiano, organizando selos, festas e festivais e trabalhando duro desde os bastidores até o mainstage. Um reflexo desse esforço pode ser ouvido na coletânea Hystereofônica, lançada pela label Tropical Twista e idealizada por Ágatha Barbosa.

A coletânea conta com 24 mulheres envolvidas no projeto, trabalhando desde a masterização e as gravações até a arte. A ideia é mostrar o trabalho de vários fronts femininos dentro da música eletrônica, e a força do projeto vem de sua diversidade – não existem sonoridades proibidas ou privilegiadas na seleção, que vai do “techno-samba” de Fresh Prince of Barão, de Érica Alves, até a vocalização desconstruída de Lori (a artista Leandra Lambert) e a bass music de BadSista.

badsista
Rafaela Andrade, a BadSista, é uma das artistas da compilação

A variedade de sons pode confundir quem inicialmente procura uma narrativa única dentro da coletânea, mas a multiplicidade de propostas e sonoridades que vão da pista à introspecção ajuda a mostrar que a cena experimental brasileira não se resume à dicotomia entre mainstream e underground. Não existem barreiras na hora da criação, e é refrescante ouvir sons tão diferentes entre si em um mesmo trabalho.

Entre os destaques, a coletânea conta com artistas como Bibianna Graeff, Andrea Gram, Renata Carnovale, Yule, Érica Alves e A Macaca. Para a artista Érica Alves, Hystereofônica é uma oportunidade de divulgar de maneira mais ampla o trabalho de várias produtoras brasileiras e fortalecer a cena independente. “Topei participar do projeto na hora em que a Ágatha veio falar dele. Tudo que for protagonizado por mulheres e/ou iniciativa de responsabilidade social eu tenho o dever e o prazer de fortalecer. Fico super honrada de a minha faixa estar entre essas artistas. Vida longa às mulheres na música”, diz.

Amanda Mussi e Érica Alves, representantes do techno na compilação
Amanda Mussi e Érica Alves, representantes do techno na compilação

 

Além da importância social da coletânea, é essencial que em uma cena na qual grande parte do público consome música eletrônica underground pelo filtro das festas existam também iniciativas, coletâneas e faixas que mostrem produções que podem ser ouvidas em outros contextos culturais e sociais. A pista é movimento cultural e floresceu muito em cidades como São Paulo nos últimos, mas ganha ainda mais variedade quando se alia a produções que atingem outros públicos e podem ser ouvidas por pessoas que não saem tanto de casa para dançar – ou, quando saem, gostam de se jogar em ritmos com BPMs menos tradicionais. Se depender da safra atual de mulheres que tocam e produzem, não vai existir espaço para mais um 2017 de listas de melhores do ano dominadas por homens.

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