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Com Pitty, Karol Conka, Luedji Luna, Flora Matos e Alice Caymmi entre os destaques, WME 2018 reúne quase 6 mil pessoas espalhadas entre painéis, workshops, festas e shows

Texto Stefanie Gaspar e Claudia Assef
Fotos Anna Mascarenhas, Helena Wolfenson e Camila Svenson

Foi um fim de semana de fortes emoções para quem esteve nos eventos da segunda edição do Women’s Music Event, que teve sua espinha dorsal, com painéis, workshops e shows, realizada no Centro Cultural São Paulo nos dias 16 e 17. O evento reuniu quase 100 mulheres de todos os segmentos da música para fomentar conhecimento e abrir novos caminhos para a inclusão no mercado, na sociedade e na política. Sob forte impacto pelo assassinato da deputada Marielle Franco, do PSOL, que foi lembrada em muitos momentos do evento, por artistas como Pitty, Luedji Luna, Luiza Lian e Karol Conka, o WME amplificou o protagonismo de mulheres e apresentou ao mercado musical profissionais questões que representam o presente e o futuro da música no Brasil.

Ao longo dos dois dias de conferência, mais de 1.000 pessoas circularam entre os 13 painéis, 7 workshops e quatro shows gratuitos! Foram debatidos temas como o mercado publicitário, o vício em tecnologias como o smartphone, o crescimento do rap no mainstream, o processo de criar um álbum em um mundo pós-gravadoras, plataformas de streaming, influenciadores digitais, entre outros temas atualíssimos do mercado. Nos workshops, o público pôde se aventurar em aulas de beatmaking, discotecagem, gestão de carreira, segurança digital, potencialização de ganhos no mercado da música, editais e stage management.

A DJ Ingrid, da D-Edge College, durante seu workshop de discotecagem no WME 2018

Nos shows, houve apresentações emocionantes de artistas essenciais na música brasileira hoje, como Alice Caymmi, Far from Alaska, Luiza Lian, Flora Matos, Nina Becker, Luedji Luna, Karol Conká, Lurdez da Luz, Mariana Mello, Drik Barbosa, Clara Lima e a DJ Mayra Maldjian, além de uma festa de música eletrônica onde tocaram as DJs Paula Chalup, Marina Dias e a argentina Ana Helder.

A Sala Adoniran Barbosa recebeu boa parte dos painéis e foi palco para os quatro shows gratuitos do WME 2018

WME DIA 1

O primeiro dia já começou com assunto quente: o painel Hashtag Publi: os limites do casamento entre marcas e influenciadores, com a participação de Raquel Virgínia e Assucena Assucena, da banda As Bahias e a Cozinha Mineira, Bia Granja e Mariana Aydar, com mediação de Fatima Pissarra.

Para uma plateia lotada, Assucena explicou a importância de as marcas abraçarem artistas que fogem do conceito tradicional de beleza, fomentando uma ideia mais múltipla do que é ser aceito. “É importante que as marcas falem sobre novos conceitos de beleza, coloquem uma trans, uma mulher negra, uma mulher que tem outra fala, outra história, na capa da revista, na frente do comercial do produto. Essa validação é importante porque as pessoas acompanham e adotam o que é dito por uma marca famosa”, explicou a cantora e compositora. “Você vê que as cervejarias estão mudando, por exemplo, radicalmente a ideia de mulher que sempre tiveram. Existe uma mudança de paradigma, parte disso pela cobrança dos movimentos sociais”, completou Raquel.

Em seguida, o painel MOTOROLA apresenta: Você é do mundo, não do smartphone, com presença de Lorena Calabria, Renata Altenfelder, Tássia Reis e Karina Oliani, com mediação de Claudia Assef, analisou as vantagens e desvantagens de um mundo ultraconectado, no qual não fazemos praticamente nada sem um telefone na mão. “Pode parecer ruim passar o dia conectado, mas pra mim, que sou artista independente e fiz minha carreira a partir do impulso da internet, pode ser uma coisa boa. A gente consegue atingir muita gente, é importante principalmente para artistas periféricos”, explicou Tássia Reis. Entre o público, as perguntas foram sobre as dificuldades de se manter uma vida privada em tempos de internet até dicas de como impulsionar uma carreira na música por meio do digital.

Claudia Assef mediando o painel que teve participação de Tássia Reis, Renata Altenfelder, Karina Oliani e Lorena Calabria

Outro momento importante do primeiro dia de conferência foi o painel Rap: Como um movimento que nasceu no gueto se consolidou como uma das maiores forças da música pop. O papo contou com Karol Conká, Eliane Dias, Daniela Rodrigues e Nicole Balestro, com mediação de Lulie Macedo, e emocionou o público com a menção da empresária e advogada Eliane Dias (Boogie Naipe) ao assassinato de Marielle. “A manifestação que tivemos ontem na Avenida Paulista e as demais espalhadas pelo Brasil mostraram que a massa negra que milita é uma massa negra que consome, que não pode ser ignorada nunca. Acendeu uma luz ali. Esse povo, todo sabe o que quer, e a força do rap chega nesse contexto de consciência política, social e de mercado”.

Lulie Macedo (de costas), Eliane Dias, Nicole Balestro, Daniela Rodrigues e Karol Conka falam sobre rap no WME 2018

A empresária do Racionais MC salientou a importância de compreender que o rap, também feito por mulheres e com artistas mulheres, sempre existiu e sempre foi forte no cenário brasileiro. O que mudou foi a descoberta do mainstream de que este mercado é lucrativo. “Houve um enfrentamento muito grande da respeitabilidade de entender o rap como porta-voz de uma cultura. Essa coisa de vir de lugares que ninguém esperava nos deu base. A gente sabe o que quer e pra onde vai. Estamos aqui, empresárias do rap, tornando esse mercado mais profissional. Perceberam que o negro é 52% da população, e que consumimos e muito”, concluiu.

Falando mais sobre o empoderamento feminino em um mundo tão tradicionalmente masculino, Karol Conka explicou que é hora da mulher tomar para si o protagonismo que sempre lhe foi negado historicamente. “Falam que a mulher negra não pode isso, não pode aquilo, pois eu digo pra todo mundo: eu sou preta e sou foda. Sou linda, faço questão de dizer, ainda mais em um mundo no qual ser negra e maravilhosa sempre nos foi negado”. Sob aplausos, as mulheres da mesa novamente agradeceram o trabalho de ativistas negras como Marielle Franco, e garantiram que o trabalho está só começando.

MADRINHA WME 2018

A madrinha Pitty não conseguiu conter a emoção quando falou de Marielle Franco e chorou

Marielle também foi lembrada no painel com a cantora Pitty, que contou ao público sobre as dificuldades de ser mulher em meio ao mundo do hardcore de Salvador. “Me senti até fútil saindo de casa e pensando em falar em um painel sobre mim depois de tudo que tinha acontecido, com Marielle, com o assassinato de uma voz de uma mulher. Mas pensei que é importante continuarmos falando e compartilhando nossas histórias. Faço questão de estar aqui e dizer que sou cantora e compositora, para marcar e acabar com essa herança história de silenciar mulheres”, explicou a cantora.

“Um grande obstáculo do qual me recordo foi o desafio de subir num palco e ser escutada e não vista. Sempre teve o fetiche da mulher na banda de rock, e isso sempre me incomodou. Na década de 90, na cena do hardcore em Salvador, a minha estratégia era me masculinizar. A frase da Simone de Beauvoir me fez todo o sentido, de não nascer mulher, de se tornar mulher. Hoje eu já tenho mais conforto de poder subir num palco de saia e fazer o que eu quiser”, completou Pitty, que também comentou com o público sobre seu processo criativo e novo álbum de estúdio, que chega ainda em 2018. A artista também aproveitou para anunciar o lançamento do documentário Do Ventre à Volta, que conta seu retorno aos palcos e estúdio após o nascimento de sua filha.

O showzaço de Alice Caymmi empolgou tanto que acabou sendo “invadido” por crianças da plateia

O dia encerrou com o show catártico de Alice Caymmi, apresentando o repertório cheio de força de Alice. Assim como aconteceu ano passado no WME, no show da cantora Tiê, crianças invadiram o palco e roubaram a cena num momento explosão de fofura. Luna (8), Maia (6) e Malu (3), filhas das sócias do WME, subiram ao palco para cantar Princesa, junto com Alice.

Nina Becker encerra a programação noturna do primeiro dia do WME 2018

Em seguida, a banda Far from Alaska mostrou seu rock pesado para o CCSP lotado, repleto de fãs de seu som stoner rock. Na programação da noite, Nina Becker e Luedji Luna apresentaram as canções de seus álbuns mais recentes, em uma programação especial do WME na Jazz Nos Fundos, que reuniu mais de 300 pessoas. Destaque para o discurso emocionado de Luedji Luna, que deixou muita gente com lágrimas nos olhos.

No final do painel sobre Direito Autoral, teve Parabéns a Você para Tiê – este é segundo aniversário que ela passa no WME

WME DIA 2

Buscando compartilhar conhecimentos mais específicos sobre direito autoral e música na era da internet, o dia começou com o painel Direito Autoral: Como determinar a autoria de uma música? Compositoras, letristas, quem deve receber pelos direitos de uma canção?. A mesa, com Kamilla Fialho, Angela Johansen, Lisiane Pratti e Tiê, com mediação de Guta Braga, mostrou ao público como a divisão de direitos autorais é um assunto complexo e subjetivo.

“Eu divido igualmente, mesmo que a pessoa no caso tenha me dado apenas uma ideia ou uma frase que tenha gerado a música. Acho que o mais importante para qualquer artista jovem é pensar em sua própria maneira de dividir os direitos de suas faixas, e contratar uma equipe capaz e competente que consiga lidar com as leis de direito autoral para que ninguém tenha problemas no futuro”, explicou Tiê, que respondeu dúvidas do público sobre direitos autorais, divisão de royalties e parcerias com músicos, produtores e diretores artísticos.

Em seguida, a mesa SKOL apresenta: A Lei do Retorno tratou de como as marcas podem e devem auxiliar o mercado musical a crescer de maneira autoral e, ainda assim, manter a independência. A mesa contou com Adriana Molari (Skol), Karen Cunha, Dai Dias e Cris Falcão. Dai, do festival Bananada, explicou ao público que o mais importante em qualquer parceria com marcas é a questão da continuidade. “Para mudar essa realidade, precisamos de investimento das marcas de forma contínua, para que um trabalho não seja interrompido no meio do caminho, e os festivais e artistas fiquem sem entender como viabilizar suas estruturas”.

Em outra mesa aplaudida da tarde, Elka Andrello, Vera Egito, Joana Mazzucchelli, Barbara Ohana e Renata Simões conversaram sobre o papel do audiovisual no mercado musical atual. Vera Egito explicou ao público que a representatividade da mulher só vai aumentar quando existir uma correção em relação à injustiça histórica que sempre bloqueou a presença de profissionais mulheres dentro do cenário musical: “Lógico que existe mulher foda VJ, eletricista, diretora de clipes, o que ela não tem é historicamente espaço para ter um currículo e a experiência que merece por causa do preconceito e da exclusão. Essa mulher é tão talentosa quanto um homem, então é uma questão do mercado abrir as portas não pensando só em currículo, e sim nessa justiça social, nesses talentos que vão além do currículo apenas”.

O dia contou também com o painel Branding: Os segredos por trás da construção da imagem e styling dos artistas e discussões sobre a equipe técnica feminina por trás de eventos e festivais, além de um papo sobre o papel dos influenciadores digitais que contou com participação de nomes quentíssimos da internet: Flávia Durante, Preta Rara, Ellen Milgrau e Marina Dias, com mediação da jornalista e RP Manuela Rahal.

Flora Matos fez um show bombástico mostrando as músicas de seu novo álbum, Eletrocardiograma

Fechando a noite, Luiza Lian apresentou o onírico e delicado repertório de Oyá Tempo, e logo em seguida o CCSP veio abaixo com a apresentação da rapper Flora Matos, que apresentou seu aguardado novo disco, Eletrocardiograma.

O WME 2018 não teria sido possível a figura do patrocinador e dos apoiadores, que trouxeram ativações incríveis para o espaço do CCSP. Com patrocínio master da marca Quem Disse Berenice?, pertencente ao Grupo Boticário, o projeto, contemplado pelo Programa de Ação Cultural – ProAC, ainda teve apoio das marcas Skol, Motorola, TNT Energy Drink, Absolut, eQlibri, UBC, Jameson, Universa (UOL) e parcerias com Sympla, Levi’s, Habro Music e Cremme com realização de MD/Agency, Music Non Stop, Centro Cultural São Paulo, Edital de Apoio à Criação Artística, Linguagem Música, Prefeitura de São Paulo e Governo do Estado de SP.

O aumento de cerca de 60% da adesão de marcas em relação à primeira edição consolida o WME como referência no assunto e atrai cada vez mais empresas que acreditam na força atuante da mulher inserida na indústria musical brasileira.

SÁBADO ELETRÔNICO, DOMINGO BOMBÁSTICO

A DJ Marina Dias, residente do Clube Jerome, abriu os trabalhos na festa de música eletrônica do WME 2018

A noite de sábado levou os mais animados ao Clube Jerome para dançar ao som de três superDJs. Marina Dias, residente dos sábados no clube, foi encarregada da abrir os trabalhos e preparou a pista para a argentina Ana Helder. A paulista Paula Chalup mostrou a experiência de quem acumula 20 anos de carreira fazendo um set maravilhoso até o encerramento da festa.

No domingo, o dia amanheceu perfeito para uma festa na rua. E assim foi. A tarde começou com o som ensolarado do Bloco Pagu, que apresentou seu repertório de pérolas da música brasileira temperadas com seu tradicional molho carnavalesco e feminista. Foi o jeito perfeito de começar a festança, com sons de Rita Lee, Marina Lima, Elza Soares, Elis Regina, entre outras cantoras, tudo isso na rua, em frente às casinhas do House of All.

O Bloco Pagu apresentou seu repertório chic de cantoras de várias gerações da música brasileira

A tarde seguiu animada com o início das apresentações do time de cantoras que foi escolhido para fechar os trabalhos do WME 2018 com a energia vibrante do rap. A primeira a se apresentar na vitrine da House of Food foi Drik Barbosa, do Rimas & Melodias, mostrando sua força e afinação. Em seguida, Mari Mello chegou apresentando letras ferozes e seu jeito marrento de cantar; quebrou tudo!

Karol Conka: já que era pra tombar… mais de 4.000 pessoas foram à festa de encerramento do WME 2018

Em seguida, Clara Lima trouxe sua consciência política em rimas ferozes, já para uma plateia que não cabia na foto. Lurdez da Luz trouxe mostrou seu domínio de palco com a experiência de quem está há anos na estrada, abrindo perfeitamente para Karol Conka tomar o palco e tombar com tudo. Àquela altura, por volta das 19h40, já éramos cerca de 4.000 em torno da House of Bubbles. Se teve hit da Mamacita? De Lalá a Tombei, ela presenteou quem estava ali com quase todos. Teve menção emocionada à Marielle Franco também, claro. E muitos recados sobre união e a importância do debate sobre a presença da mulher na música. Foi lindo. A saideira ficou com o DJ set da talentosa Mayra Maldijan, que tocou dentro da House of Bubbles, um repertório fino e rebolativo.

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