Fiquei um tempão com o convite pra estreia do site WME na cabeça: escrever sobre disco de artista mulher que eu tenha escutado e amado muito. Pensei em Bjork, MIA, Gaga. Em Sade, Santi White, Rita Lee. Em Annie Clarke, Tina Turner, Charlotte Gainsburg. Sentei, xícara de café a postos, pra fazer listinha numa folha de papel e visualizar melhor. E daí percebi que não tinha tanta escolha assim.
Claro que podemos listar dezenas de mulheres incríveis na música. Mas o mundo da música insistiu por muito tempo em ver mulheres mais como criaturas e menos como criadoras. O mercado apenas reflete o que existe lá fora: é um mundo masculino. Por isso existem listas de “os grandes vocalistas de todos os tempos” e depois de “grandes vocalistas mulheres de todos os tempos” e por isso mulher ainda precisa responder perguntas tipo “como é ser mulher num ambiente tão masculino?”. Mulher é subcategoria no mercado musical. É é importante quando as mulheres entendem e se propõem a romper esse nicho.
Daí escolhi a Madonna, uma mulher que usou essas questões em seu favor, dominando o imaginário pop durante… o quê… umas três décadas? Não sei se as novinhas conseguem captar a dimensão do que Madonna representou na cultura pop dos anos 80 aos 00, e a radicalidade da Madonna circa 1992, mas no repertório da mulher balzaquiana é Madonna o ideal da mulher livre, poderosa, dona do próprio corpo e da própria obra. Uma mulher que sabe quem é, o que quer e como conseguir.
Escolhi Bedtime Stories, o disco “de baladas” que Madonna lançou em 1994, porque ele marca uma de suas mais espertas reinvenções criativas.
Explico.
Madonna estava vindo de Truth or Dare, o filme, Erotica, o álbum, Sex, o livro, e um ou outro processo, real ou imaginário, por “indecência”. Se por um lado ela nunca esteve tanto em evidência, por outro também nunca foi tão criticada – às vezes em casa (nos EUA) e pelos próprios fãs.
Sua carreira já era construída em cima de uma imagem muito forte – se masturbando no palco do VMA, cantando sobre aborto, beijando um Jesus Cristo negro na cruz. Mas foi com Justify My Love, um clipe em preto e branco que mostrava cenas de orgia e fetiches diversos em quartos de hotel, que Madonna expôs a sexualidade feminina de forma tão in your face que a MTV (gringa) se recusou a passar o videoclipe. Circo armado. Madonna aproveitou para vender o trabalho direto ao público (na época a gente comprava CD e VHS, tá?) e teve quem achasse que dessa vez ela tinha ido “longe demais”.
Ciente das críticas e nem um pouco a fim de virar produto de nicho, ela entendeu que era hora de promover uma reinvenção radical, agradando aos charts e sendo fiel a si mesma. Como? Se cercando dos melhores produtores da época e pegando o irresistível bonde do r&b noventista. Bedtime Stories abre com Survival e vai direto ao assunto, temática e musicalmente.
I’ll never be an angel
I’ll never be a saint, it’s true
I’m too busy surviving
Creditada ao produtor Dallas Austin (na época famoso por trabalhar com o TLC), tem um som suave, mellow, cheio de alma. Aqui Madonna encontra a própria (boa) voz e se torna mais que uma artista da provocação ou construtora de hits dançantes, ganhando camadas de sofisticação ideais para o que estava acontecendo no mainstream musical.
Temas frequentes de música de Madonna como a disco (Don’t Stop, irresistível) e eletrônica moderna (Sanctuary) continuam presentes, mas é o single de Bedtime Story que sobrevive como destaque artístico. É um épico eletrônico-hipnótico, etéreo e meio trance, assinado em parceria com Björk e Nellee Hooper. Outras participações memoráveis são Meshell Ndegeocello num rap em I Could Be Your Lover, e Aaliyah, via um sample de Back & Forth (em Inside of Me).
Bedtime Stories – Madonna
Bedtime Stories escancara a capacidade da cantora de mudar de personalidade sendo 100% genuína. A Madona adulta, moderna e chique traz também uma nova estética, em que o cabelo platinado tipo Jean Harlow grita sofisticação. E essa mulher mais-romântica-menos-sexual de Bedtime Stories é a dominatrix provocadora de sempre. Ela pode estar usando tailleur e pérolas, mas canta vou quebrar todas as regras que não criei (em Human Nature, um recado claro aos críticos e imprensa).
A estratégia funcionou. Take a Bow, single produzido pelo lendário produtor Kenneth “Babyface” Edmonds (o do clipe com o toureiro, que deu a Madonna a chance de interpretar Evita no cinema e ganhar seu primeiro Golden Globe como atriz) se manteve na primeira posição do Billboard Hot 100 por sete semanas. Secret ficou em terceira posição por 22 semanas.
Mas mais importante que números e prêmios, Bedtime Stories entregou ao mundo uma Madonna que ninguém ainda sabia que existia ou o quanto desejava que existisse, com energia para continuar no topo do pódio pop por pelo menos mais uma década inteira.
Up and down and all around
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