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Falamos com Ana Garcia, do Coquetel Molotov

Ana Garcia é uma daquelas pessoas que te cativam à medida em que desenvolve sua fala, dividindo momentos especiais com a sensibilidade que só se encontra em uma mulher trabalhadora que quebrou muitas barreiras para chegar aonde está. Aonde está, no caso, é a 13a edição do festival No Ar Coquetel Molotov, com edições em 3 cidades diferentes pela primeira vez e uma bagagem de vida e experiências de se admirar.

Falamos com ela sobre a evolução do festival, o que esperar para a edição do futuro e suas memórias preferidas.

Jaloo dá um mosh na plateia do Coquetel Molotov em Recife em outubro deste ano
Jaloo dá um mosh na plateia do Coquetel Molotov em Recife em outubro deste ano

WME – O Coquetel Molotov está em sua 13a edição, pela primeira vez em três praças no mesmo mês. Como foi a evolução do festival nesses 13 anos para chegar a essa proporção?

ANA GARCIA – Eu vejo o festival dividido em dois momentos: a época do Teatro da UFPE e agora na Coudelaria Souza Leão. Durante 10 anos o festival aconteceu em um teatro, onde era possível ter uma grande experiência focada principalmente no lado musical. Trabalhamos em um espaço mais limitado, para no máximo 3.500 pessoas por dia e com menos estrutura para ser montada. Foi uma época bem especial, em que pudemos trazer diversos nomes incríveis para Recife e ir crescendo aos poucos. Inclusive, nessa época, levamos também o festival pela primeira vez para fora do Recife e fizemos duas edições em Salvador. Quando o teatro avisou que iria entrar em reforma foi o momento em que pensamos que deveríamos aproveitar para repensar o formato, e foi isso que fizemos.

Passamos semanas procurando lugares diferentes em que pudéssemos criar uma experiência diferente, curtir o verde e o dia, onde a música seria importante, mas não exclusiva. Nunca vou esquecer quando Marcilio Moura, meu diretor de palco, me levou para a Coudelaria Souza Leão e mostrou aquela área gigante que normalmente era utilizada para festas de casamento. Fiquei tão encantada e assustada ao mesmo tempo. Pensava: “que espaço enorme, teremos que montar tudo! Como iria conseguir essa grana?”. Mas sabia que tinha que encarar esse desafio e levar o festival para esse novo local. Mesmo sem patrocínio, fizemos a primeira edição, em 2014, na raça e com a grana focada na estrutura para poder mostrar para o público que ali é possível fazer algo incrível e para 10 mil pessoas! Sinto como se tivesse recomeçado tudo e estamos agora na nossa terceira edição de festival.

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WME – É a segunda vez que o festival acontece em Belo Jardim, no interior de Pernambuco, uma locação interessante para um festival com a proposta cultural que o Molotov oferece. Você pode falar mais sobre o porquê dessa escolha e da importância de levar eventos culturais como a mostra Play the Movie para o interior?

ANA GARCIA – O Coquetel Molotov sempre teve o sonho de levar o festival para o interior de Pernambuco, principalmente para ser um estímulo para as bandas da região. Quando conseguimos fechar a parceria com o Instituto Conceição Moura e Baterias Moura, que tem a sede em Belo Jardim, percebemos que essa seria a nossa grande possibilidade. O Instituto é muito sensível à música e tem abraçado as nossas ideias. Queremos ir crescendo aos poucos também e este ano já estamos levando mais oficinas, a Mostra Play the Movie cresceu e vamos fazer um grande dia com diversos shows. Desde o ano passado estávamos com a ideia de levar Otto, que é de Belo Jardim, e ficamos muito felizes quando conseguimos fechar o show. O mais legal foi abrir o edital para as bandas do Agreste Pernambucano se inscreverem.

Montamos uma comissão com jornalistas e Benke do Boogarins e cada banda recebeu um feedback, mesmo os que não passaram. Foi muito interessante ver como as bandas reagiram a isso, sabemos que é difícil receber críticas, ainda mais de estranhos, mas foi uma forma que encontramos de contribuir. Conseguimos enxergar que existe uma cena viva e ficamos tão empolgadas que acabamos colocando mais duas bandas que o esperado. Além disso, vamos levar o carro maravilhoso Som na Rural de Roger de Renor.

WME – Você é idealizadora do No Ar Coquetel Molotov, empresária do cantor Thiago Pethit e no seu currículo conta com grandes feitos como produtora do palco Red Bull Music Academy no Sonár de 2012 e o palco Dragão do Mundo durante a Copa do Mundo em Fortaleza em 2014. Isso sem falar nos diversos shows internacionais e nacionais que você já realizou em Recife. Para completar, é atualmente curadora musical do projeto Fazendo e Ouvindo Música no Museu do Estado de Pernambuco. Quais foram os maiores desafios na sua carreira até agora? Você acha que alguns deles estavam relacionados ao seu gênero ou não?

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ANA GARCIA – Eu sempre acho que os desafios são financeiros – como fazer algo incrível com as limitações que você tem? Sempre perguntam para mim “quais as dificuldades dos festivais hoje em dia?”, eu sempre respondo que para mim é grana, mas para os outros normalmente é criatividade. O maior desafio é tentar sempre construir algo diferente. Quero surpreender o público, quero que voltem para casa encantados e que nunca esqueçam daquele grande dia. Eu sou um pouco centralizadora e tento cuidar de todos os setores, mesmo que tenham outras pessoas responsáveis, mas para ter certeza que está tudo sendo feito com muito cuidado. Então, é um desafio acompanhar tudo, desde as perguntas do público na nossa página e email, a quem está panfletando – se está sabendo falar sobre o festival (quando eu não faço), a estrutura, a bandas… Com certeza já estive em situações constrangedoras, a tal ponto de empresários acharem que eu era uma babá de banda, já levei tapa na bunda, mas sempre me posicionei. Tenho cinco irmãos, todos homens… Tento não culpar o meu gênero para as situações que enfrento, mas fico impressionada como ainda é uma área muito dominada por homens.

WME – O line-up deste ano conta com grandes mulheres como Céu e Karol Conka, existe uma atenção especial no momento da curadoria para abrir mais espaço para mulheres? Como esse processo acontece?

Karol Conká arrasando no palco do Coquetel em Recife
Karol Conká arrasando no palco do Coquetel em Recife

ANA GARCIA – Eu acho que o line-up nos últimos anos aconteceram de uma forma natural, mas este ano tentei olhar para isso mesmo. Até cheguei a cogitar em fazer um line-up totalmente formado por mulheres, mas ficaria muito triste em não ter grandes bandas como Boogarins ou Baianasystem! Então, Jarmeson, que faz o festival comigo, cortou logo as minhas asas. Mas peguei os cartazes dos primeiros anos do festival e de fato poucas mulheres fizeram parte do line-up. Claro que não foi intencional, mas precisamos nos conscientizar para não deixar isso acontecer. Além das que você citou, ainda temos Rakta, que é um trio formado por mulheres, Ventre, que tem uma baterista mulher, a batalha de Vogue que tem mulheres, Juçara Marçal cantando com Barro, Moodoid, que são quatro mulheres e um homem. Os festivais precisam se conscientizar e trabalhar para que as mulheres não sejam apenas 20% do line-up!
WME – Quais são suas memórias preferidas nesses últimos 13 anos de Coquetel Molotov?

ANA GARCIA – Ai, são tantas… Cada ano é tão especial, com tantas histórias especiais e engraçadas. Acho que a turnê com Dinosaur Jr. irá sempre ficar na memória. Foi tão divertida e inusitada. O show de lançamento de Camelo e Mallu, lembro dos jornalistas na minha casa e falando que na piscina eles estavam juntos (foi ali que começou tudo entre eles). O backstage do Curitiba Rock Festival com o Teenage Fanclub e Pixies (!!!). Racionais no teatro! Moraes Moreira cantando Acabou Chorare. Beirut ter aceitado ficar mais uma semana no Brasil para tocar no nosso festival. Ah, mas uma das mais especiais foi no ano passado, poder curtir o festival todo com as minhas filhas e a minha mãe. Depois ficar lembrando na grama com a minha equipe até as 11h da manhã fofocando sobre tudo que rolou no festival.

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WME – Se você pudesse falar com Ana, 13 anos atrás na realização do primeiro festival, o que você falaria para ela?

ANA GARCIA – Pare de chorar que vai dar tudo certo. Hahaha Já chorei muito. Com os anos e crescimento, o formato do Coquetel Molotov, como produtora/coletivo, também mudou. Acho que eu era orgulhosa demais quando era mais jovem e vivia muito na defensiva, talvez isso veio por crescer com tantos homens… queria ter sido mais humilde para ter enxergado os meus erros e ter pedido desculpas nas horas necessárias ou ter reconhecido quando era necessário descer do pedestal. Mesmo que as separações fossem necessárias, não queria que tivessem sido tão dolorosas.

WME – Além dos shows, o festival também conta com dois elementos muito importantes: as oficinas e a mostra Play the Movie – que se trata de obras audiovisuais com o tema da música. Falando sobre a Play the Movie, qual a relevância de mostrar filmes voltados para a música como parte do festival? Como os filmes são escolhidos?

ANA GARCIA – A Mostra Play the Movie é um projeto idealizado por Jarmeson de Lima. Quando criamos o festival, o Teatro da UFPE tinha uma sala menor, que chamávamos de Sala Cine e antes dos shows passávamos sessões de filmes, todos voltados para música. Não lembro direito como a Mostra Play the Movie foi criada exatamente, se veio daí, mas é importante para exibir o que está sendo feito no audiovisual no mundo da música, para ver documentários que normalmente não estão nas programações de cinema e ainda tem cine concertos que são sempre deliciosos de assistir.

WME – Você pode falar um pouco das oficinas e workshops que rolaram esse ano? Quais você gostaria de poder fazer junto?

ANA GARCIA – A oficina permite interação com o público além de poder levar o aprendizado de fato pra casa. Foi tudo muito escolhido a dedo e adoraria poder participar de todos, mas com certeza irei participar da oficina de Voguing com o Trio Lipstick, de Belo Horizonte. Quando fui fazer uma visita técnica em BH descobri que a cidade tinha um FESTIVAL de voguing!!! Como assim??? E ainda descobri que é a única cidade na América Latina que tem batalhas de voguing de forma continua. Isso é muito impressionante. Pedi para os meus parceiros locais, da Quente, para me colocar em contato com quem arma tudo isso, e elas adoraram a ideia de trazer isso tudo pro festival no Recife. Outra oficina muito legal foi a imersão com a banda Boogarins. Sempre quis fazer uma espécie de “Escola do Rock” com os artistas que estariam no festival para poder “ensinar” e dividir experiências com músicos locais. Quando falei da ideia pra banda eles adoraram e decidimos fazer em conjunto essa primeira experiência. Ela é mais voltada para músicos que querem aprender a gravar música em casa e experimentar. Também teve a oficina de Zines com Beatriz Perini de Goiânia e a de quadrinhos com Diego Sanches.

WME – Por fim, é preciso te parabenizar por esse imenso investimento na cultura brasileira que você e toda a sua equipe fazem juntos todo ano. E para continuar a corrente, quais artistas brasileiros (músicos ou não) você sugere que fiquemos de olho nos próximos meses?

A rapper Lay, pra ficar de olho
A rapper Lay, pra ficar de olho

ANA GARCIA – Eu ficaria de olho nas meninas do Rakta, acho que ainda irão crescer muito. Carne Doce que lançou um disco recentemente e o show está bem bonito. A rapper Lay é incrível e deve rodar os festivais próximo ano. Kastelijns está a cada show mais maduro. Larissa Luz que foi indicada ao Grammy Latino. Barro e Aninha Martins, ambos de Recife.

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