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Arrasadora no Dekmantel, Nina Kraviz revela segredos de suas produções na coluna Meu Estúdio

Um dos grandes destaques entre o mar de música boa apresentada no Dekmantel São Paulo (dias 4 e 5) foi, sem dúvida, a russa Nina Kraviz. Ela tocou na tarde do sábado (4), na pista principal do festival, ora debaixo de chuva, ora ao lado de um belíssimo arco-íris, criando uma bela moldura pro seu set, que passeou do techno ao trance, sempre muito vigoroso, sem dar a mínima para o fato de que eram apenas cinco da tarde.

Artista de muito peso na cena de música eletrônica mundial, Nina é sagaz nas produções. Além de seus vários hits, como Ghetto Kraviz, ela está à frente de dois ótimos selos, o трип, lançado em 2014, responsável por lançamentos de novos talentos como Bjarki bem como de raridades de artistas veteranos como Aphex Twin, e o novíssimo GALAXIID, focado em lançamentos nada óbvios. Os primeiros a ganharem vida através do GALAXIID são o russo Species of Fish e o islandês Biogen, ambos criadores de música bem pouco classificável.

Ouça o mix de Nina Kraviz com músicas lançadas pelo selo трип

Ela, que esteve uma pá de vezes no Brasil, tem feito sets repletos de raízes no trance e pelo que vimos no Dekmantel o resultado é uma pista totalmente de quatro por seus timbres, beats e ondas sonoras dos mais diversos shapes, das mais gordas às mais serradas, passando, claro, pelas pontiagudas.

Essa riqueza musical de Nina nos levou a querer entender um pouco melhor a sua maneira de fazer música – e também a especular sobre equipamentos de estúdio, que na verdade é tão itinerante quanto a própria DJ. “Por mais que você tenha equipamentos incríveis, no final das contas o mais importante é o que sai de dentro deles”, disse em entrevista exclusiva ao Women’s Music Event. Vamos a ela.

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WME – Nos fale sobre seus equipamentos (configuração e organização) de estúdio, sobre suas particularidades e seus principais equipamentos de áudio que fazem parte disso tudo.

Nina Kraviz – Como estou constantemente na estrada, atualmente não tenho um estúdio. Desde que me mudei de Moscou, minha vida artística é a vida de uma cigana. Tenho algumas QGs ao redor do mundo e em cada um deles eu tenho algum equipamento. Eu tenho um pequeno módulo de sistema bacaninha na Islândia, alguns sintetizadores incríveis com várias características como Korg Lambda em Berlim e meu antigo estúdio com tudo que eu usei nos meus primeiros anos musicais.

Falando sobre equipamento, eu gostaria de salientar que, por mais que você tenha equipamentos incríveis, no fim das contas o mais importante é o que sai de dentro deles. Eu sempre vi instrumentos de um ponto de inspiração em primeiro lugar e do técnico por último. Se garrafas de vidro dão ao artista inspiração verdadeira para realizar sua ideia, elas são um ótimo instrumento de fato.

Eu conheço muita gente que tem estúdios inacreditáveis e surreais com equipos raríssimos, metros de módulos alinhados um ao lado do outro, mas infelizmente eles não conseguem tirar nada de lá. Eu também conheço dois músicos que estão muito famosos agora e ganharam muito respeito. Se as pessoas tivessem noção do tipo de equipamento que eles usaram para criar seus trabalhos mais famosos, elas ficariam muito surpress. Acredito que a maioria ficaria muito desapontada ao descobrir o que uma pessoa tão talentosa pode fazer com um par de fones de ouvido e um computador tosco. O mundo interior de um artista é a coisa mais importante no final. Como eles são super capazes de transmitir suas emoções. Tudo que vem da interação de um artista com um instrumento ou algum equipamento é uma reflexão desse mundo.

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WME – Como funciona seu processo de criação? O “flow” do seu trabalho, os procedimentos de arranjos e gravações?

Nina Kraviz – Eu tenho um flow de trabalho muito específico. Eu trabalho quando estou funcionando ;-9
Em outras palavras, eu espero até minha musa voltar pra casa, sentar em meus ombros e, enquanto ela descansa, eu dou tudo de mim na gravação. Eu não posso prever quando esse momento vai acontecer de novo, mas eu sei o que fazer quando isso finalmente acontece. A maioria das minhas músicas são freestyle, gravações ao vivo que eu escolhi deixar levemente inacabadas e com algumas correçõezinhas. Dessa maneira eu gravei a maior parte dos meus primeiros trabalhos e meu álbum. Acredito que quando você grava algo, tudo que está envolta de você é absorvido e permanece dentro. Especialmente as emoções. Então não é bom intervir num flow natural com a intenção de permanecer com essa emoção de “primeira vez” intacta. Quando eu gravo algo, deixo isso fluir quase por conta própria e tudo que tenho a fazer é escutar o que vem das minhas interações com as máquinas e microfones.

Quando você sabe como escutar, tudo importa, mesmo um pequeno detalhe pode desempenhar um papel na criação de uma atmosfera. Às vezes as coisas vão um pouco mal… Às vezes, uma chave estranha ou um glitch inesperado do equipamento, um eco estranho. Mas isso é exatamente o que eu busco, quase nunca regravo nada.

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WME – Qual é seu maior sonho falando em equipamentos de áudio para seu estúdio? E por quê?

Nina Kraviz – Eu gostaria de ter um estúdio muito bem equipado onde tudo fosse como eu quero.

WME – Quando e como você começou a trabalhar em estúdio? Nos fale sobre seu processo de aprendizagem, como você engrenou?

Nina Kraviz – No começo dos anos 2000, em Moscou, comecei a escrever e compor música. Eu me tornei uma cantora em turnês de uma banda. Perto de 2006 eu conheci o Ableton e de tempos em tempos eu rabiscava algo para a minha banda. Em 2007, o Greg Wilson lançou nosso disco (Myspace Rocket ft Nina Kraviz Amok). E aí ele nos ofereceu para gravar um álbum. O álbum já estava quase pronto e nós só tínhamos que mixar. Minha banda não era tão entusiasmada como eu sou, eu queria levar cada pedaço do estúdio e mixar com um engenheiro. Minha banda não gostava muito dessa ideia e salientou que eu não produzia nada para o álbum, e que não havia mais nada eu que pudesse fazer. Achei muito injusto, porque na realidade eu estava criando alguns sons e melodias também, então, basicamente eu estava coproduzindo todas as músicas… Eu saí da banda, e através das mágoas e ressentimentos, comecei a fazer música sozinha, com equipamentos bem simples que eu trouxe um dia depois de sair da banda. Era uma placa de som. Um microfone da Shure e um sintetizador vocoder Korg R3.
Ouça o disco Myspace Rocket ft Nina Kraviz Amok

Eu queria provar que eu não precisava de mais ninguém para me expressar musicalmente. Nos primeiros três meses, pela emoção de poder fazer aquilo, eu escrevi tanta música que ainda posso continuar lançando todas até hoje. Eu realmente não sei se posso falar de progressão, na verdade acho que não importa o quanto tecnicamente melhor eu posso ser hoje, eu estou mais preocupada com as vibes do começo. Quando tudo é novo e muito emocionante. Quando você não tem medo de errar fazendo as coisas, você simplesmente faz. Sem nenhuma razão.

WME – Quais as ferramentas e características que você considera mais importantes dentro de um estúdio?

Nina Kraviz – Eu realmente preciso de conforto. Precisa que esteja bem limpo e organizado, para quando eu tenho alguma ideia, eu poder fazer rapidamente tudo o que eu preciso para gravá-la. Precisa ter uma vibe legal, onde eu possa relaxar e deixar minha criatividade fluir sem empecilhos. Embora os empecilhos e desafios técnicos possam também incentivar a criatividade, mas na minha memória as minhas melhores músicas eu gravei em lugares em que me sentia bem.

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